Sentei-me em frente ao computador para escrever. De repente ouço uma voz meiga e quase aflita de um cômodo distante me chamando:

– Mamãe, vem brincar comigo?

Havia acabado de deixar minha Senhorinha assistindo seus desenhos, depois de ter tomado o café da manhã junto dela. 
Eu que precisava organizar minhas coisas e escrever para não “perder” o rumo, me perdi nessa hora. Foi uma apunhalada no peito aquele clamor. E chorei desesperada!

Na noite anterior, ao chegar da escola, deitamos na cama para ler livros. Jantamos em família, e ainda em família nos despojamos no chão para brincar de jogo da memória. Coloquei a Senhorinha na cama, rezei e lemos mais histórias antes de dormir.

Por que então o desespero de não poder atendê-la nessa hora em que ela chamava para brincar?

Não estava sabendo lidar com isso, apesar de 6 anos e 10 meses de “treinamento”. Exatamente essa hora o sentimento de não ser “10 mães” me afligiu e me entristeci profundamente.

Chorando muito, fui consolada pelo meu esposo que sempre valorizou minha renúncia ao trabalho para compor integralmente a educação de Maria.

Minutos depois chega também a pequena com montagens de lego para me agradar e deita ao meu lado.

A gente sabe que pedidos de atenção estarão presentes o tempo todo. É preciso fortalecer a “não culpa” por não poder atender seus apelos em determinados momentos. Mostrar que todos tem seu espaço na casa na hora certa. Que nos amamos, que tentamos fazer o melhor um pelo outro.

Reconhecemos eu e papai, que o melhor foi feito por sua educação e como forma de amor maior.

Já tive provas que também me elevaram a alma em momentos que pude dar uma palavra à pequena quando foi preciso. Eu estava ao seu lado ensinando à minha maneira e fiquei feliz e tranquila por isso.

Estava disponível quando a escola me chamou em momentos que Senhorinha passou mal.

Pude até hoje comparecer em todos os eventos escolares para me orgulhar da pequena e vê-la feliz com minha presença.

Sim, a culpa em certos momentos por não poder atender todos os apelos de uma só vez, existirá, mas será conciliada e compensada com muito amor. Com muita atenção no momento oportuno. Com diálogos, com ensinamento, com orações sempre juntas.

Será compensada pela alegria de poder após a escola comprar-lhe o pão de queijo tão esperado das segundas e quartas.

Será compensada quando eu preparo seu lanche todos os dias e lhe entrego nas mãos.

Será igualmente compensada quando estou aqui escrevendo e ela chega pedindo algo. Me levanto, vou atender e satisfaço sua necessidade. E ela sai contente.

Será compensada com a mamãe realizando suas atividades escolhidas em casa, para estar bem emocionalmente e assim poder suprir as necessidades da pequena.

 O que não irá faltar em meio a tudo isso:

Os bons valores da vida, ensinados como forma de religião.
A honestidade e dos sentimentos mais puros.
O amor àquela pequena que faz parte de mim há quase 7 anos.

Enfim, Maria sempre saberá que apesar de não conseguir tudo em todos os momentos – faz parte da vida – ela tem uma mãe com seus erros e acertos, mas que simplesmente a ama muito!