Mal chegamos da rua e Maria já quer atenção. Fomos à missa, almoçamos, conversamos e em casa, mais pedidos.
 – Mamãe não vai fazer pulseirinhas comigo? 
– Filha, nós chegamos agora. Mamãe vai sentar um pouco, descansar, ver as coisas dela primeiro.
Sim, eu gosto de sentar e ter meu tempo quando chego da rua. Aliás, preciso dele. Maria espera mas não contenta. De tempos em tempos vem me perguntar alguma coisa. Ou seja, quer atenção e não desiste.
E haja compreensão de ambos os lados. Não a culpo. É criança e quer brincar, é filha única e não temos de imediato amigos mirins por perto para que ela possa distrair.
Sinceramente não me lembro do meu irmão ter sido companhia 24 hs para mim. Mas eu tinha muitos vizinhos e brincava todos os dias. Brincava na rua, brincava na casa deles.  A diversidade de brincadeiras era grande, a liberdade também. Não sobrava tempo para o tédio. Acho que minha mãezinha não “sofria” da culpa.
A Senhorinha tem todos os motivos pra querer nossa presença. Percebo que quanto mais cresce mais atenção exige. Para cada idade uma exigência diferente. 
Ultimamente tem vindo a culpa. A “bendita” culpa que deparamos em depoimentos todos os dias de outras mamães. Papai também as vezes se sente assim, mas o peso maior fica com a mãe. E ele mesmo fala que mãe é diferente. 
Sinto-me egoísta por não querer brincar em alguns momentos. Mal até de pensar assim e relatar. E esqueço de mim. Me arrasto nessa culpa sem solução e me pego triste algumas vezes por vê-la chamar e eu não estar disponível física ou psicologicamente para atendê-la. Triste por vê-la brincando sozinha. Assim me divido entre a obrigação de ouvir seu chamado e a vontade de ter meu espaço muitas vezes.
Equilibrar tudo seria a coisa certa a fazer. Diálogo constantemente pra que ela consiga entender certas horas nossas necessidades. Reflexão dos seus apelos e dos nossos também.  E faço toda hora! Embora ame me fazer criança junto dela – só ela consegue tal proeza – brincar com seus brinquedos e sua imaginação, suas fantasias, a grande verdade é que criança precisa de criança para brincar e para ser ela mesma.
Penso que a culpa sempre existirá. Embora ame como louca, uma mãe nunca se acha completa em seus feitos, atitudes e pensamentos. A cobrança de achar que deveria fazer mais, é eterna. O mau jeito por ser adulta também.
Maternidade é isso mesmo. Mas Maria sabe que tem todo meu amor. Meu desdobramento materno. Meu olhar único e coração amolecido pra ela. Terá sempre minha preocupação exagerada em vê-la feliz e saudável todos os segundos. Ela percebe isso. Sabe que sempre poderá contar comigo quando precisar e não precisar também. Que estarei sempre aqui quando criança, adolescente, adulta. Brincando, chorando, aconselhando.
É… Pensando dessa forma talvez a culpa vá embora… por uns instantes! 
Hora de brincar!

“Amar e´envelhecer querendo te abraçar
dedilhar num violão, a canção pra te ninar” (Roupa Nova)