Vez ou outra me pego conversando e recordando a infância! Levanta a mão quem de vez em quando não se lembra dos seus tempos de criança com nostalgia. Numa roda de amigos, em casa numa prosa, ou mesmo quando sentimos saudades dos cuidados dos pais, que muitas vezes já não estão entre a gente. Essa é a hora que mais aperta.
Andei me lembrando dias passados – como tantos outros – de como era bom ter um quintal com frutas: mamão – com direito a canudinho para soltar bolhinhas -, goiaba, acerola, figo, cana e aí vai.
Hoje compro frutas embaladinhas numa bandeja de isopor para apresentar à Maria. Uma bandeja que de emoção não traz nada. Apenas o dever cumprido de se ter fruta em casa para se alimentar bem.

Já viram cana picada e embalada? Eu nunca tinha visto. Mas fiquei feliz em pelo menos poder mostrar pra Maria de perto o que é uma cana e como se chupa seu caldo. Era assim que falava quando criança: chupar cana!

Mas definitivamente não é a mesma coisa. Quando crianças, sentávamos eu e meu irmão na porta da cozinha esperando os pedacinhos de cana que pai ou mãe descascavam e picavam. Um baciazinha simples servia para juntar as porções que deliciosamente mastigávamos.

E assim era a goiabeira que me vem sempre à memória também. Goiaba branca que comíamos no pé. Esse pé que vez ou outra nos servia de ponte para o pé de goiabas vermelhas da vizinha. Fazer isso era ouro. E quando estavam “de vez” – ainda não tão amadurecidas – colocar sal e comer era um prazer divertido.

Era muito bom ter todo esse tesouro perto da gente.

Do quintal até a rua! Essa era palco das brincadeiras antigas de criança: queimada, amarelinha, pula-corda, rolimã, bicicleta e muito mais. Infindas brincadeiras pra nunca serem esquecidas.  As pracinhas eram cenários de muita traquinagem!
Em meu bairro havia duas que intitulamos Pracinha Velha e Pracinha Nova. Já viram uma pracinha onde todos os brinquedos são de cimento? Lá na “Pracinha Nova” era assim. Escorregador, cavalinho, forte, submarino… Subíamos numa escada que vivia com cheiro de xixi que as crianças faziam dentro de um túnel para chegar no topo do escorregador. E quem disse que eu ligava pra isso? Descia o escorregador encerado de cabeça pra baixo, de costas, de qualquer forma e tudo era alegria pra gente.
Como da mesma forma não ligava para os tampões dos dedões do pé arrancados de tanto brincar descalça nas ruas…

Da rua até em casa! Os biscoitinhos fritos da mãe, aqueles com açúcar e canela (conhecidos também como Bolinho da Vovó ou Bolinhos de Chuva) eram os melhores. A rapa do angu com leite era uma delícia. O leite ia ser fervido, mas o restinho do saquinho era sempre esperado pra beber ali mesmo. Ovo quente com sal no copinho, pastel frito, torta de sardinha para levar nas festas americanas (cada um levava seu salgado), a maçã picada pra gente na hora da tv com todos reunidos… Que saudade!

Ontem jantando com Maria, me lembrava de como era gostoso ficar rodeando meu pai em seu jantar. Esperar umas garfadas e comer junto com ele era mágico.. Mesmo já tendo feito minha refeição, o seu “mexidinho” com couve era o melhor. Porque era dividido com amor. Esse momento nunca saiu da memória.

Era uma infância muito rica. De quintal, de terra, de fruta no pé. De machucados, de namoricos, de brincadeiras na rua, de ir pra casa do vizinho.

Uma riqueza sem tamanho que nos tempos de hoje não vejo mais…

Hoje ensaio comprar uma bicicleta porque adoro pedalar, mas o transito caótico e que amedronta, me trava de ter novamente minha magrela. As intenções são outras, a necessidade da atividade física fala mais alto. Hoje não temos os amigos aventureiros, a magia do pedalar no bairro, a hora livre nas ruas e sem medo.
A infância ficou pra trás, mas na cabeça, no coração, trago um álbum cheio de recordações. Não são imagens envelhecidas, com buracos de traças ou com cheiro de mofo. São recordações coloridas, com cheirinho de terra e fruta. Cheias de brincadeiras, cheias de vida que me transportam todos os dias para meu paraíso infantil…