“Um tapinha” só não tem problema. Nem dói! Ele nem sente dor a cada vez que bato em sua mão, sua cabeça, sua perna, ou lhe belisco. É de levinho. Só passo medo, mais nada. Sim. Medo! Mexe com o psicológico dele. E essa pra mim é a pior parte. Mexe com o respeito pelos pais, (respeito?), mexe com o desenvolvimento e com a auto-estima. 

Um tapinha “de leve” não faz mal nenhum. Mesmo que seja apenas nos momentos em que:

– quero assustá-lo para que ele não faça mais tal coisa;
– estou nervosa e não consegui me controlar;
– quero intimidá-lo, pois sei que ele terá medo e não vai fazer mais aquilo.

É justamente aí que está a deficiência do bater. Assustar uma criança quando você quer educá-la, não a levará pra rumo algum. Muito menos intimidá-la por você ser maior, mais forte, um gigante amedrontador. Porque é assim que parecemos diante dos pequeninos. Gigantes loucos quando estamos nervosos querendo calá-los. É por isso que tantos profissionais nos aconselham abaixar pra ficarmos iguais em seu tamanho.
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Certa vez, ouvindo uma entrevista em uma rádio local, uma psicóloga abordou muito bem esse assunto. Nunca mais esqueci. Embora, (Graças a Deus) não levante a mão para minha filha, me lembro das palavras dela e tento aquietar meu estado de impaciência e intolerância a muitas atitudes da minha pequena, porque uma hora ou outra, se não passamos, passaremos por esse estado, em que ficamos nervosos por repetições da criança em sua birra ou outra apelo que não pode ser atendido no momento, mas que ela insiste em querer.

E confesso que nos momentos de irritação, onde falo com tom mais áspero, me arrependo e sinto um pesar em minha alma.

São vários os motivos durante o dia que nos levam a isso. É preciso seriamente respirar, analisar o momento e pensarmos no que vamos falar pra não precipitarmos com palavras de impaciência e intolerância às crianças, o que dirá bater…
Pois bem, essa psicóloga teve um argumento simples e sábio:
“Quando perdemos o controle com uma criança, a ponto de levantarmos a mão para ela e batermos, não estamos querendo educar, não se educa com tapas. Batemos porque chegamos ao nosso limite de paciência e descarregamos tudo na criança.”
Com outras palavras, foi esse o pensamento da entrevistada. Uma teoria modesta, mas verdadeira na  prática.
Diante dessas palavras, cada vez que abordam esse assunto comigo eu completo:
– Por acaso, escolhemos a hora certa para bater? Esperamos passar nossa bravura do momento, nossa intolerância e chegamos para nossos filhos depois de um dia, ou depois de horas que ele fez algo errado e calmamente o chamamos num canto para “educá-lo” com as mãos, chinelo, ou coisa pior, sei lá?
– Filhinho, vire o bumbum, sua mãe vai te bater agora, porque você fez isso, isso e isso, ONTEM, lembra? Eu te amo, estou calma, mas preciso corrigi-lo.
Claro que não fazemos isso! Lembrando das palavras da psicóloga, sabemos que batemos porque a criança já nos tirou do sério naquele momento, e descarregamos toda nossa raiva em seu bumbum, seu braço, ou em outro lugar que achamos mais conveniente depositar nossa cólera.
Que triste isso!

Não importa a intensidade do tapa,  o aperto do beliscão, a intenção disso ou daquilo. Para a criança sempre haverá uma marca. A marca da humilhação, do desrespeito, a marca do desamor. Tapinhas, beliscões ou surras, são agressões. Como entender que quem mais a ama, a agride? Por que quem mais essa criança admira, vira um gigante bravo e raivoso em sua frente?
                                                                                                             
Não podemos esquecer que somos exemplos para um filho. Se as coisas se resolvem dessa forma, provavelmente ele resolverá tudo dessa forma também. Seja na escola, em casa com o irmão ou os próprios pais. Afinal, foi assim que ele aprendeu e não podemos cobrá-lo do contrário. 
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Pensemos o que esperamos dos nossos filhos: Medo ou respeito?                                                                                                    
 A primeira opção é mais fácil. É um paliativo eficaz. Claro, o medo resolve tudo na hora. A criança emudece e se curva, mas faz tudo de novo.

Eu fico com o respeito, onde basta uma palavra branda e firme, um olhar de amor e repreensão, onde bastam gestos do dia-a-dia para a criança aprender com o exemplo.

Que marcas queremos deixar em nossos filhos? Eu adoro essa pergunta, porque nos sacode para a realidade. Eu escolho a do amor!  Quero que minha filha se lembre de mim com doçura e não com piedade ou rancor por eu não ter sabido educá-la.

Se a gente grande soubesse (quanta paz,)

o que consegue a voz mansa, (o bem que faz,)como ela cai feito prece e vira flor,
num coração de criança.
A gente grande, que tira (sem pensar,)
o meu brinquedo da mão, (me faz chorar)
tirou de um músico a lira, (sem saber,)
interrompeu a canção.
(Billy Blanco)

** Esse texto foi também publicado no blog Mamães em Rede, reeditado para o Bolhinhas.