Tenho boas lembranças da minha infância. Sei da minha realidade e não fujo dela mas sou dessas pessoas nostálgicas, sonhadoras, que gostam de lembrar da infância, das boas coisas que ela me transmitiu, e da necessidade de passar tudo isso pra minha senhorinha. 
Enfim, a nostalgia me ronda constantemente. Acho que isso é normal, afinal, deixei de ser criança há muito tempo. Não moro mais perto dos meus pais, tenho comigo a vontade de estar perto deles, ainda sendo tratada com mimos e cuidados como eles sempre fizeram. Hoje a vontade de cuidar deles também. A responsabilidade de ser adulto nos faz querer ser “filhos pequenos” novamente.
Foi uma infância simples, mas muito querida e feliz.

Sempre me lembro do quintal, da horta do pai (que ainda existe), dos cuidados dele de me levar e buscar em todos os lugares, dos passeios de bicicleta na cadeirinha (me lembro sim), das bolhas de sabão com canudinhos de mamão que ele cortava pra ficarmos felizes vendo aquela mágica no céu.

Hoje transfiro minhas bolhinhas de sabão para minha pequena Maria

Recordo-me de sentar na porta da lavanderia que dá para o quintal e esperar mais uma fatia de cana cortada por ele ou minha mãe.


Do “agora eu”, quando d.Rosa Mística sentava a noite comigo e meu irmão na sala. Pai vendo seu jornal na tv, e nós esperando nossa vez para mais um pedacinho de maçã: “- agora eu mãe”.
O mexidinho do pai era o mais gostoso. Eu jantava e ficava ao seu lado pra comer em seu garfo.
Não posso esquecer do pé de goiaba que subia e colhia fruta fresca. Do pé de manga que minha mãe chorou quando meu irmão o matou achando que estivesse podando do modo certo.
Ainda posso sentir a dor dos dedões do pé, arrebentados por andar descalça na rua… 
Das amarelinhas que eu amava brincar e chegar ao “céu”…. 
Da birosca (bola de gude) que ficava doida pra brincar nas rodas de menino. Meu irmão? Não deixava.
Da diversão na rua com meus vizinhos. Da pracinha, da bicicleta no bairro, das trocas de roupas com minha vizinha, das cozinhadinhas.
Muita riqueza em tudo isso!
Pego carona todos os dias na nostalgia. Graças a Deus a memória é fértil. Sim… sou nostálgica. Tive uma infância modesta, mas muito preciosa.
Saudades de tudo isso, me recordando sempre da minha mãe tão meiga, do meu pai tão presente… do meu irmão ali por perto…hora brincando, hora brigando.. 
Hoje meu quintal ficou pra trás, minha infância, minhas lembranças, que nem posso viver e trazer de volta onde vivo… 
Hoje no lugar de uma horta com pés de alface, tenho uma jardineira em uma varanda em meu “caixote de pedra”..  (meu apartamento).
Hoje não ando mais de bicicleta porque o trânsito louco não me permite. 
Hoje as bolhas de sabão são da Maria e saem com dificuldade pelo buraco da tela de uma varanda, ou estouram ali mesmo.
Hoje estou longe de meus “personagens” da infância que tanto amo… Hoje fica na lembrança isso tudo…
Mas mesmo que não consiga trazer de volta toda essa riqueza, posso contar com alegria e orgulho das proezas e sapequices da mamãe pra D.Maricotinha. Que tudo isso teve seu valor. Que a infância é algo sagrado na vida da gente, bem como as pessoas que fizeram parte dela, as brincadeiras que não queríamos que tivessem fim, e o amor despercebido que sentíamos por tudo isso. 
Que foi uma infância doce, tranquila, honesta e muito, muito feliz.

Foto esquerda: eu e meu irmão Alexandre
Foto acima: Eu, mãe e meu irmão na minha festinha de aniversário
Foto de baixo: Vizinho da infância, meu irmão e eu de vestidinho
 
** Pegando Carona na Nostalgia se encontra no blog Mamães em Rede quando era integrante do grupo!