Sensibilidade também se herda. É isso que percebo todos os dias convivendo com Maria. Seu lado sensível, piedoso e admirador das coisas simples, das pessoas, da natureza, se manifesta quando estamos pelas ruas sozinhas, conversando, voltando de algum lugar. Momento que me deparo todos os dias em cenas que chamam sua atenção.

Avistando alguma criança menor do que ela, a Senhorinha não hesita em
comentar a admiração. Cachorrinhos a fazem parar sem receio para que a
pequena possa acariciá-los como se pudesse levá-los pra casa. As flores
se tornam quadros pequenos ou grandes, modestos ou majestosos diante dos
olhos de Maria. A lua é a rainha dos cenários admirados por ela.

Vimos hoje uma árvore da pracinha que foi podada pela prefeitura da cidade. Com a poda, a árvore se revelou torta. Maria apiedou-se e logo consertou o sentimento dizendo ter ficado bonita. Viu arte e se lembrou com entusiasmo que era da mesma espécie que tinha no parquinho da escola que estava em reforma e que foi retirada de lá.

– Cortaram pra fazer papel mamãe!

Eu sou assim. Admiro e me compadeço com tudo e todos. 
Sem querer transferi essa piedade intensa que sinto para D.Maricotinha, talvez num desejo que ela também tenha sempre compaixão das pessoas e carregue na alma esse olhar como algo necessário e natural.
De propósito deixei que ela aprendesse a contemplar a simplicidade de um gesto simples de um amigo, de uma música quando canto ou ouvimos juntas, de uma leitura em voz alta para ela e que emocionada não escondo os olhos rasos d’água. De um filme com uma boa mensagem de vida, de uma professora que ensina e se esforça pra isso, de um idoso que nos olha com ternura e que abraço na rua pra vê-lo feliz.

Maria é assim: sensível e pura como toda criança. Mas a cumplicidade de quase 7 anos que ensina o amor simples e transparente, deu pra D.Maricotinha um toque a mais de singeleza com a vida.

E assim seguimos, em uma troca de delicados sentimentos e aprendizados constantes. E se ela porventura esquece, está a mamãe aqui pra lembrá-la que o importante da vida é isso: enxergar tudo com os olhos sensíveis do coração.

Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos
(Antoine de Saint-Exupéry)