Depois que eu, papai e Maria acabamos de jogar “Forca”, dividimos os protocolos para o sono da pequena e fomos eu e ela para o banheiro cumprir a tarefa notura: Xixi e dentinhos.
Toda noite é assim. Por dois dias seguidos, mamãe prepara D.Maricotinha para dormir e entrega para papai rezar e ler histórias. Depois desses dois dias, trocamos as tarefas. Ele escova e eu rezo. Fazemos isso há anos. São dois os motivos: Pela divisão dos cuidados com Maria e pelo entrosamento com a pequena.
Enquanto ela “fazia hora” no vaso, eu comecei a cantar e arriscar uns movimentos. Maria adora quando fazemos essas coisas. E eu adoro fazer.
Lembrei-me, não sei porque, de “Nossa Gente (Avisa lá) – Oludum”. Tenho que confessar que já cantei e dancei muito essa música.
Sua vozinha doce começou a entoar outra. Uma dessas da atualidade, que se aprende com os coleguinhas de escola, ou se ouve em carro-volante, e  que não sou nem um pouco adepta. Não vou citar nome e cantor para não ficar ruim. Como não gosto e não acho legal a letra pedi:
– Canta outra minha filha.
Imediatamente me lembrei de “Elis – Casa no Campo”. Sempre gostei de cantá-la. Acho que todos imaginam uma “casa no campo”, pra ter por perto, “amigos, discos, livros e um filho de cuca legal”… Então fica bom sonhar com ela. Cantei toda. E Maria ouviu atentamente.
Veio depois na memória “Zé Geraldo – Cidadão”. Cantei muito na infância e adolescência e canto até hoje.
Linda música. Me emocionei. Deu um nó na garganta e engoli seco pra não derramar alguma lágrima perto da Maria. Sabia que ela ficaria pensativa indo deitar. E “Cidadão” tem uma letra forte e muito realista.
Tenho paixão pela música. Gosto de valorizar e viver a letra quando é boa. Com isso sempre gostei de mostrar determinadas músicas pra outras pessoas. Cantar, enfim. Agora posso ensinar o que é bom à minha filha.
Depois de tudo, Maria me abraçou. Não sei porque. Talvez tenha sentido a letra também.
Dancei com ela pra tornar tudo mais leve. E ela, claro, adorou e pediu bis.
Pude com tudo isso, mais uma vez, ensinar música de qualidade pra uma geração que não viveu Elis nem Zé Geraldo, mas que pode, com certeza, conhecer essas preciosidades da MPB e aprender a gostar. Pérolas consagradas que não morrem nunca.
Quero tentar pelo menos.
Cantar, dançar, emocionar – ser mãe – Pude também viver mais um momento único com minha pequena. Fazer tudo que gosto.
No final tudo é música, tudo emociona… tudo combina.

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