No quintal da minha  infância, dentre outros pés de fruta, havia um pé de mamão.  Com a intenção de agradar a mim e meu irmão, meu pai em sua simplicidade, cortava das folhas desse pé de mamão, os talos para fazer um canudinho. Pegava canequinhas de alumínio, fazia uma mistura de água e sabão e carinhosamente nos dava para soltarmos bolhinhas de sabão. 
Me lembro que vez ou outra esse sabão amargo me retornava à boca. Mas nem me importava. Queria mesmo era ver as bolhinhas saindo daquele canudinho improvisado e eficiente, indo embora pro quintal do vizinho, ou às vezes estourando no ar antes de ganhar rumo…
Foi uma infância feliz com minhas bolhinhas… Crescemos! 
Foram-se o pé de mamão, os canudinhos, a caneca e as bolhinhas céu afora…
Hoje elas não são mais as mesmas.. Seus “canudos” já vem prontos em arames…. A caneca virou plástico com rótulos coloridos encantando as crianças…  E elas nem imaginam que também soltávamos bolhinhas e que elas saíam de um canudo que a própria natureza nos presenteava para nos alegrar… 
Não havia rotulo na nossa caneca, ela era russa e amassada. Não existia a praticidade do plástico ou arame arredondando a ponta para sair a bolhinha… 
O encantamento era outro… 
Era um encantamento natural, que nos enchia os olhos e a alma de alegria, vendo tudo aquilo se transformar em lindas bolhas multicoloridas ganhando espaço no céu…
As lembranças ficaram… 
E com elas a necessidade de que não fossem apagadas. E através de pensamentos escritos, surgiu então, o “Bolhinhas de Sabão”. Um diário virtual que chamamos de blog, onde ali pude recordar a minha infância, minhas bolhinhas ou mesmo mostrar o presente de forma sonhadora ou real.
Nasceu Maria… 
Foi quando ganhou vida o “Bolhinhas de Sabão para Maria”…

E assim transportei as bolhinhas da minha infância para a infância da minha pequena… 

Hoje ela também se encanta com as bolhinhas no céu. De uma forma diferente: com os rótulos chamativos e os plásticos que podemos guardar e usar novamente…
Os canudinhos de mamão ficaram guardados também… apenas na lembrança… 
E claro que os uso! Uso cada vez que recordo da minha infância, da doce intenção do meu pai, e das coloridas e encantadoras bolhinhas querendo ganhar o mundo além do meu quintal…

“Como uma sombra perdida que se desfaz
na amplidão…
Tudo é efêmero na vida, como as bolhas
de sabão”
                                              
                                                                                    imagem retirada daqui