Uso as palavras para compor meus silêncios!
_Manoel de Barros

A minha infância foi época que mais tive asas pra voar,  mesmo sendo criança que ficava sob a obediência dos pais. Engana-se quem acha que ganhar asas é sair pro mundo….
Ali na minha casa, no meu jardim, no meu quintal sem fim, foi onde consegui sonhar livremente, porque era onde eu brincava de ser feliz. E era!
As amarelinhas, comidinhas de barro, pé de goiaba que fazia ponte pro vizinho, a cana cortada em pedaços sentada ao pé da porta, as biroscas que eu queria tanto jogar com meu irmão mas era coisa de menino, minhas bolhinhas de sabão com canudinho de mamão…

A Pupi, o pé de manga, os pés de alface….

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Meu quintal era maior do que o mundo (Manoel de Barros)

Dentro de casa era bom! As maçãs picadas pela mãe e o “agora eu”, o segundo jantar rodeando o pai, os cadernos de folhas reaproveitados pela mãe, o jornal na tv com todos juntos naquela salinha simples…

A gente vai crescendo e começa a desaprender a voar. O quintal fica ali com as brincadeiras e sonhos guardados . Agora a rua é mais interessante. Os amigos, as noites infindas perdidas de olhos vivos e bem abertos.
Aí a gente vai em busca de independência e as asas começam a cair. A liberdade de voar ficou no quintal.

A infância  que tanto me libertava, me deixou livre para ser adulta, mas a gente esquece que liberdade mesmo é na infância…. O tempo vai passando e finalmente quando já não sabemos voar, damos adeus ao quintal, às memorias, às coisas, às pessoas que te faziam livre…

Precisei crescer… E mesmo deixando a liberdade do quintal pra trás, ficaram  as memórias que me fizeram livre de novo pra sonhar outros sonhos… Sim, as memórias que fazem voar…
Então veio uma varanda, que enfeitou cenários felizes e emocionantes. Que serviu de abrigo da chuva e consolo da vida…. Que emprestou o brincar pra outra criança, que mostrou a rua de muitas pessoas, que serviu pra conversas, brincadeiras e pensamentos perdidos e distantes…

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A varanda que foi consolo do pai nos seus últimos tempos, distração da mãe com suas palavras cruzadas, muitas brincadeiras da Maria. Tem um brinquedo dela ali na varanda…

Eu tenho saudade do meu quintal onde fui criança feliz. Tenho saudade da minha varanda de tempos vindouros que emprestei pra Maria e que por bons momentos ela também foi feliz…
Fez feliz minha mãe com suas cruzadinhas infindas…
Fez feliz meu pai que nos recebia sorrindo a cada regresso ali…
Fez feliz a nós num acolhimento sem fim…

Hoje “uso as palavras para compor meus silêncios”, e expressar  minha memória feliz.  Hoje tudo é silêncio…
Hoje componho meus silêncios em palavras inúmeras vezes, em imagens e uma saudade tremenda daquele lugar, daquelas pessoas, daquelas coisas que me fizeram feliz um tempo… muito tempo!

Meu quintal, minha varanda existem hoje apenas na memória. Agora eternizada numa arte delicada que descobri nesse mundo vasto que é o virtual.
Conheci a querida Miriam do MflordePano. Ela faz coisas lindas em tecido e bordado.
Em um dia que admirava sua arte, meus olhos fitaram uma delicadeza que Miriam criou. Era a casa de seus pais eternizada num bastidor e bordada com muita delicadeza.

Fiquei encantada e não tirei aquela arte da cabeça. Pedi um trabalho à Miriam e além dele veio a ideia também de eternizar a varanda da minha casa, a casa dos meus pais, também num bastidor. Seria muita emoção vê-la reproduzida ali. Miriam aceitou.  🙂

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Minha casa, casa de meus pais eternizada lindamente numa arte! Memória que não tem preço…

Começamos a trabalhar em cima dessa arte que pra mim seria algo inesquecível. Mandei a foto, sua filha desenhou e fomos acertando os detalhes. Foi um trabalho riquíssimo e dedicado. Por várias vezes pedi à Miriam que acrescentasse algo no desenho que viraria bordado.
– “Estica um pouco a varanda Miriam! “Pode fazer a Tutuca com os pezinhos pra fora ali na escada?” “Se importa de chegar a árvore até o canto do bastidor?” “E a escadinha, pode vir mais pra baixo?”

Miriam ouvia atenta e pacientemente os meus anseios. A partir do desenho de sua filha, modificava ou acrescentava os detalhes que eu pedia e tudo ia virando “mágica”. Adivinhou pensamentos, teve sensibilidade pra dar toques finais no bordado e me acolheu de forma sensível e gentil para fazer algo tão importante pra mim. Teve  muito respeito em relação às modificações, porque ela sabia o quanto era especial, o quanto significava eternizar nossa varanda ali como ela eternizou a casa de seus pais.

Depois de alguns retoques, cuidados, acertos, nossa casa com varanda ficou pronta. Fiquei emocionada quando chegou aqui. Eu chorei, Miriam chorou, de emoção, de alegria, de lembranças e de ver um trabalho tão delicado ter sido feito com amor e alegria.

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Agora nossa varanda que estava na frente de nossa casa, me remete também às lembranças do meu quintal….
Agora minhas memórias felizes estão ali, eternizadas nesse bordado lindo e delicado, fixo na parede da minha sala, onde posso ver sempre e relembrar o que não volta mais, mas que foram momentos eternos e únicos da minha vida, fixos na memória enquanto eu puder, fixos no coração, nos pensamentos, na lembrança de uma vida onde voava livremente com minhas asas infantis….

Como adoro a originalidade, pedi à Miriam que fizesse também uma bolsinha (um dos trabalhos que também vi dentre outros dela) com o nome de um dos meus instagrans Ela Vê Poesia, um Instagram lindo com fotos que tocam o coração. Pedi que bordasse meu all star que é a imagem do perfil. A letra é minha que enviei à Miriam que bordou por cima.

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Um artista é sempre sensível. Por gentileza e atenção da Miriam, recebi essa bolsinha linda como mimo. Com detalhes delicados e tecido que combina com minha necessaire acima.

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Obrigada Miriam, por esse trabalho lindo, pela gentileza diária, pelo respeito ao seu trabalho e às minhas memórias…MflordepanoMiriam faz arte em bolsas, necessaire, bonecas, lembrancinhas, itens para bebê, bordados em quadro de bastidor. Tudo feito com muito capricho e alegria!
Conheçam a MFlordePano e apreciem a arte da Miriam como eu aprecio. 🙂

 

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Texto por Teresinha Nolasco, Mãe da Maria