Minha infância foi rica, além de todo os outros tesouros, ela teve árvores. Mamão, manga, goiaba. Essas compunham meu quintal, delas me lembro. 
Do mamão tirei meus canudinhos para soltar bolhinhas de sabão. Aquela historinha que conto do meu querido pai que cortava os canudinhos pra gente ver as bolhinhas se perderem na imensidão do céu. 
Da manga me recordo ser o tesouro da minha mãe. Linda, imponente no centro do quintal. Não posso me esquecer quando meu irmão no ímpeto de podá-la, fez morrer a bela árvore. Minha mãe deitada no chão, do seu quarto chorou triste e eu deitei do lado.
Da goiaba eram as travessuras. Com o pé encostado no muro da vizinha, subia e comia ali mesmo. E não parava, seus galhos me serviam de ponte para o quintal das amigas. Passava!
Árvore é vida, é alegria, é alento. É uma amiga que está ali todos os dias esperando nosso carinho e nos saudando a mais uma manhã.
Hoje não temos árvores pois moramos em apartamento. E sinto muitíssimo Maria não poder desfrutar dessa riqueza. Mas na casa do vovô tem jasmim branco bem no centro do jardim. Esse não era da minha infância. Árvore franzina e delicada, nos presenteia com flores durante todo o ano. E foi nela que a Senhorinha e sua amiga sapeca Jujuh “brincaram de subir”.
Os galhos são frágeis. Não dão pra explorar com vigor, mas rendeu travessuras e alegrias com as duas amigas que descalças e libertas, marcaram a tarde com mais esta recordação.
Infância sem árvore posso dizer que é meia infância. A minha foi inteira!

Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.


No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.


Aprendeu com a natureza o perfume de Deus
seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul
E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.


No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.


Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com muitas borboletas.


Árvore – Manoel de Barros (in: Ensaios Fotográficos).
Recordando, Aprendendo e Brincando 11 –  Blogagem Coletiva quinzenal. 
Projeto idealizado por Cristiane Philene do Joseph Blog  e Jamilly Lima do Mãe para Sempre.
“É o Bolhinhas resgatando por palavras as eternas brincadeiras de infância”